Patologia ungueal

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Autor

Igor Santos Costa

Argos, Laboratório de Patologia, Fortaleza (CE), Brasil

1. Indicações de exame histológico

  • Doenças infecciosas, como onicomicoses, infecções bacterianas e virais
  • Doenças inflamatórias primárias ou com acometimento secundário do aparato ungueal
  • Lesões epiteliais e mesenquimais do aparato ungueal
  • Avaliação de padrões de bandas longitudinais ungueais (eritroníquia, leuconíquia, xantoníquia e melanoníquia), com destaque para as lesões melanocíticas

2. Realizando a biópsia

2.1 Escolha do local da biópsia

A coleta da amostra pode ser realizada através de diferentes técnicas e dependem de fatores como idade do paciente, quadro clínico, localização, tamanho das lesões e hipóteses clínicas.

Existem diferentes técnicas de biópsia que se aplicam especificamente para a patologia do aparato ungueal1 (Fig. 1).

Fig. 1. Técnicas de biópsia do aparato ungueal: (a) biópsia do leito ungueal por punch, (b) clipping ungueal, (c) biópsia longitudinal fusiforme do leito ungueal, (d) biópsia longitudinal lateral da unidade ungueal, (e) biópsia transversal fusiforme da matriz ungueal, (f) biópsia da prega ungueal proximal por punch.

2.2 Tipos de biópsia

  • Punch da matriz ou leito ungueal. Pode ser utilizada para diagnóstico das formas proximais de onicomicose, doenças inflamatórias, tumorais e melanocíticas.
  • Biópsia por shave da matriz ungueal. Boa técnica para lesões com padrões de banda longitudinal, particularmente a melanoníquia longitudinal. Para lesões benignas, pode ser também curative (Fig. 2).
  • Clipping ungueal. Técnica fácil e rápida, não requer fixação no formol nem em outro fixador.
  • Biópsia longitudinal fusiforme do leito ungueal. Utilizada para o diagnóstico de doenças neoplásicas, infecciosas e inflamatórias.
  • Biópsia longitudinal lateral da unidade ungueal. É a biópsia que melhor representa a anatomia da região e que pode providenciar o máximo de informações nas diversas doenças do aparato ungueal.
  • Biópsia da prega ungueal proximal. Pode ser utilizada para avaliação de colagenoses, cisto mucoso digital, neoplasias e doenças inflamatórias.

Fig. 2. Para a realização do shave da matriz ungueal, rebate-se a prega ungueal proximal (PUP) e a lâmina ungueal proximal (LUP), para exposição da da lesão e subsequente realização da biópsia. Também pode-se rebater a lâmina ungueal junto da PNF no mesmo sentido posterior.

2.3 Fixação

A amostra ungueal obtida para o exame histopatológico deve ser, imediatamente após a sua retirada, submersa em recipiente transparente e de boca larga, contendo formalina tamponada (formol tamponado a 10%) em volume cerca de 20x o tamanho da amostra.

Amostras de clipping ungueal para pesquisa de onicomicose podem ser enviadas a fresco, secas, sem necessidade de fixador.

2.4 Requisição de exame histopatológico

Além dos dados pessoais e epidemiológicos do paciente, é importante que a requisição contenha a descrição sumária do quadro clínico, sua evolução, resultados de exames complementares e hipóteses diagnósticas, pois fazem parte dos pré-requisitos para um laudo completo e contextualizado.

  • Algumas doenças inflamatórias e neoplásicas são mais incidentes em faixas etárias distintas. Por exemplo, é bastante rara a apresentação de melanoma ungueal em pacientes com menos de 40 anos de idade.
  • Tratamento e uso de medicamentos. Informações sobre uso de medicamentos podem auxiliar na investigação ou mesmo se mostrarem como a causa de certas doenças, como na melanoníquia por ativação melanocítica medicamentosa.
  • Localização da lesão. É importante destacar se a lesão está localizada no leito, matriz, hiponíquio ou pregas ungueais, ou em mais de uma localização. A mesma importância deve ser dada para a quantidade de unhas acometidas, se em apenas uma ou mesmo em todas as vinte unhas.
  • Outros exames. Podem ser necessários exames abrangentes de todas as vinte unidades ungueais e possivelmente dermatoscopia, diagnóstico por imagem e análises micológicas.
  • Anormalidades ungueais em doenças sistêmicas. Anormalidades ungueais podem indicar doenças sistêmicas ou genodermatoses.
  • Descrição clínica específica das lesões ungueais. As alterações ungueais incluem uma variedade de condições, tais como onicodistrofia (uma deformidade geral da unha), onicólise (descolamento da unha do seu leito) e leuconíquia (conhecida pela presença de manchas brancas nas unhas). Algumas outras condições comuns são a onicomadese (interrupção temporária do crescimento das unhas) e a onicogrifose (crescimento excessivo e deformante das unhas).

2.5 Glossário de termos específicos para o aparato ungueal e suas doenças:

  • Anoníquia. Ausência de unha.
  • Braquioníqua. Unha desproporcionalmente curta e larga.
  • Cloroníquia. Unha(s) verde(s).
  • Doliconíquia. Unha desproporcionalmente longa e estreita.
  • Eritroníquia. Unha(s) vermelha(s).
  • Unha macia (= onicomalácia).
  • Coiloníquia. Unha em forma de colher.
  • Leito ungueal. Estrutura distal da matriz que fixa firmemente a placa ungueal ao osso.
  • Leuconíquia. Unha(s) branca(s).
  • Melanoníquia. Unha(s) marrom a preta(s).
  • Matriz ungueal. Estrutura que produz a placa da unha.
  • Prefixo que significa unha.
  • Crescimento excessivo da unha por dobras ungueais hipertróficas.
  • Espessamento da unha em forma de chifre que geralmente também cresce para cima em vez de para fora.
  • Onicólise. Descolamento distal da placa ungueal de seu leito.
  • Onicólise proximal da matriz.
  • Mastigar as unhas.
  • Fissuração longitudinal da margem livre da unha; tipo de unhas quebradiças.
  • Divisão lamelar da unha; tipo de unhas quebradiças.
  • Corte habitual da unha ou destruição com instrumentos afiados.
  • Arrancar partes da unha.
  • Onicotização. Forma específica de queratinização da matriz que leva à formação da substância da placa ungueal.
  • Paquioníquia. Unhas espessas.
  • Paroníquia. Inflamação do tecido mole periungueal.
  • Tique habitual de pegar e manipular nas dobras da unha.
  • Pequenas depressões na superfície da placa ungueal. Mais comum na psoríase, mas pode ocorrer em outras condições ungueais. Seu tamanho é frequentemente característico para certas condições.

3. Avaliação laboratorial pré-analítica

3.1 Macroscopia

Descrever a amostra nas suas três dimensões e analisar as características de eventual lesão, assim como medir as distâncias das margens, quando pertinente.

Amostras de clipping ungueal não necessitam de secção, exceto se não couberem no cassete.

Realizar a secção ao meio em caso de recebimento de punch a partir de 4,0mm de diâmetro.

Em amostras contendo lâmina ungueal associada ao leito ou matriz ungueal, recomenda-se a separação da lâmina das partes moles, se possível.

Em biópsias contendo leito ou matriz ungueal, pode-se enviar a amostra associada a um modelo em papel da anatomia do aparato ungueal para melhor identificação e orientação das estruturas que foram biopsiadas2. O modelo pode ser feito em qualquer tipo de papel, pode ser impresso ou desenhado a mão com lápis e deve caber no cassete. A utilização de esponjas recobrindo a amostra é recomendada para melhor manutenção do fragmento junto ao papel (Fig. 3).

Fig. 3. Biópsias do aparato ungueal podem ser posicionadas adequadamente sobre um papel representando a anatomia da região. Além do posicionamento sobre o papel, o uso de tinta nanquim para demarcar a porção proximal/distal da biópsia também auxilia na orientação da peça (adaptado de Reinig et al, 2015).

3.2 Amolecimento da amostra

Para facilitar o corte histológico quando houver lâmina ungueal, diferentes técnicas de amolecimento do tecido podem ser feitas e há diversos protocolos disponíveis. Técnicas recomendadas (escolher uma das descritas abaixo):

  • KOH a 20% em 56°C durante 15 minutos³.
  • Polisorbato 40 em solução aquosa a 1% na superfície de corte da lâmina ungueal no bloco de parafina, após o desgaste para retirada do excesso de parafina, a 4°C por 1 hora4.
  • Imersão da lâmina ungueal em óleo de cedro por 3 dias, seguido de lavagem com água corrente e fixação em formalina a 10% por 2 horas5.
  • Tratamento com amaciante de roupas. Após o processamento usual do tecido, os blocos de parafina são aparados para expor a unha. Em seguida, são colocados com a face voltada para baixo em uma placa de Petri contendo o amaciante por 10 minutos, a temperatura ambiente. O amaciante utilizado é da marca Comfort (Unilever, Londres, Reino Unido)6.

3.3 Processamento

Conforme a rotina do serviço, mesmo após o amolecimento da amostra. Usualmente, após o tratamento de amolecimento, os blocos são lavados, secos e resfriados antes de serem cortados em seções de 04µm em um micrótomo. Os cortes são então montados em lâminas e corados com hematoxilina e eosina para análise histopatológica.

3.4 Colorações de rotina

  • Hematoxilina e eosina
  • PAS deve ser utilizado em casos com suspeita clínica ou microscópica de onicomicose

Referências

  1. Rich P. Nail biopsy: indications and methods. Dermatol Surg. 2001;27(3):229‒234.
  2. Reinig E, Rich P, Thompson CT. How to submit a nail specimen. Dermatol Clin. 2015;33(2):303‒30
  3. Magalhães GM, Succi ICB, Sousa MA. Subsídios para o estudo histopatológico das lesões ungueais. An Bras Dermatol. 2003;78(1):49‒
  4. Lewin K, DeWit SA, Lawson R. Softening techniques for nail biopsies. Arch Dermatol. 1973;107(2):223‒224.
  5. Grammer-West NY, Corvette DM, Giandoni MB, Fitzpatrick JE. Clinical Pearl: nail plate biopsy for the diagnosis of psoriatic nails. J Am Acad Dermatol. 1998;38(2 Pt 1):260‒262.
  6. Sharma P, Sharma S, Murthy SK, et al. Comparison of four softening agents used on formalin-fixed paraffin-embedded nail biopsies with inflammatory disease. J Histotechnol. 2020 Mar;43(1):3‒
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