Autores
Raimundo Gerônimo da Silva Júnior, Laura Carolina López Claro, Aloísio Souza Felipe da Silva, Cleto Dantas Nogueira, Emilio Augusto Campos Pereira de Assis, Evandro Sobroza de Mello, Igor Campos da Silva.
1. Amostragem endoscópica
A coleta e o manuseio adequados de amostras de tecido durante a colonoscopia são fundamentais no diagnóstico de patologias do sistema digestivo. A seguir algumas recomendações de amostragem endoscópica para adequada abordagem das colites
- Para pacientes com sinais clínicos e endoscópicos de colite, recomenda-se a realização de biópsias segmentares (pelo menos duas de cada segmento), que devem ser acondicionadas em recipientes separados e devidamente identificados (íleo, ceco, cólon ascendente, transverso, descendente e sigmoide e reto).
- Quando há suspeita de colite microscópica, recomenda-se a coleta, em frascos separados, de duas biópsias do hemicólon direito (cólon ascendente e transverso) e do hemicólon esquerdo (cólon descendente e sigmoide).
- Recomenda-se a realização de cromoendoscopia pancolônica com corante ou a cromoendoscopia virtual com biópsias direcionadas de quaisquer lesões visíveis durante a endoscopia de vigilância em pacientes com doença inflamatória intestinal.
- Em pacientes com colite ulcerativa conhecida e sinais endoscópicos de inflamação, recomenda-se a realização de pelo menos duas biópsias das áreas mais afetadas para avaliação da atividade ou da presença de citomegalovírus. Para aqueles sem sinais endoscópicos evidentes de inflamação, tecnologias avançadas de imagem podem ser úteis na identificação de áreas para biópsias direcionadas, a fim de avaliar a remissão histológica, caso isso tenha consequências terapêuticas.
- Em pacientes com conhecida doença de Crohn conhecida recomenda-se não biopsiar inflamação endoscopicamente visível ou mucosa de aparência normal para avaliar a atividade da doença.
As amostras devem ser acondicionadas em frascos separados devidamente identificados e fixados em formol tamponado a 10%.
2. Informações clínicas
O diagnóstico de colites é um processo compartilhado entre o patologista e o clínico, dada a natureza clinicopatológica dessas condições. Para alcançar um diagnóstico preciso e diferenciar doenças como colite ulcerativa (CU) e doença de Crohn (DC) de outras formas de colite, é essencial que o patologista receba informações clínicas detalhadas. Idealmente, as seguintes informações devem acompanhar a amostra enviada:
2.1 Duração da doença
O histórico temporal da colite é fundamental. Um histórico prolongado pode levar o patologista a considerar uma DII crônica, mesmo na ausência de alterações histológicas típicas de cronicidade, pois essas características podem surgir tardiamente. Essa informação ajuda a contextualizar os achados histológicos em relação ao estágio da doença.
2.2 Exames microbiológicos de fezes
Testes microbiológicos ajudam a descartar colites infecciosas, como Clostridium difficile e amebíase. Patógenos como citomegalovírus (CMV), devem ser investigados por métodos histológicos ou moleculares, pois podem coexistir com DII, agravando o quadro ou contribuindo como possíveis gatilhos para a inflamação crônica.
2.3. Achados endoscópicos
Informações detalhadas sobre a extensão e a distribuição das lesões são indispensáveis para uma interpretação histológica precisa. Alterações endoscópicas específicas, como pseudomembranas na colite pseudomembranosa, podem não ter uma contrapartida histológica exata. Sempre que possível, recomenda-se que uma cópia do laudo da colonoscopia acompanhe a solicitação enviada ao patologista.
2.4. Achados radiológicos
Informações de exames radiológicos, como o envolvimento do intestino delgado, sinais de megacólon tóxico ou características sugestivas de isquemia ou obstrução, complementam os dados endoscópicos. Sempre que disponíveis, relatórios radiológicos devem ser compartilhados com o patologista.
2.5. Outros dados relevantes
Informações adicionais são frequentemente decisivas. Por exemplo:
- Histórico de viagens a áreas endêmicas de colite infecciosa.
- Uso recente de antibióticos, quimioterapia, radiação ou exposição a metais pesados.
- Cirurgias prévias, como ressecções intestinais, que podem indicar condições como colite de desvio ou pouchite, muitas vezes indistinguíveis histologicamente de DII.
A comunicação entre clínicos e patologistas deve ser clara e completa para otimizar o diagnóstico e o manejo do paciente. Cada detalhe fornecido é um passo a mais para um diagnóstico mais preciso e orientado à melhor conduta terapêutica.
3. Mucosa colônica normal
Ao avaliar biópsias de cólon para avaliação de colite, um dos primeiros passos é distinguir uma mucosa inflamada da normal e para isso é fundamental conhecer as variações histológicas entre os segmentos e alterações normais decorrentes da preparação intestinal.
Abaixo algumas considerações importantes para avaliação:
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Mucosa colônica normal.
A mucosa colônica é composta por três tipos principais de células:
- Células epiteliais: incluem células absortivas (predominantes no lado direito), caliciformes (predominante no lado esquerdo) e células de Paneth, normalmente presentes até cólon transverso proximal.
- Células estromais: Localizadas no tecido conjuntivo de suporte.
- Células inflamatórias: Presentes na lâmina própria em densidade variável, com maior densidade à direita.
Quanto a estrutura das Criptas observamos:
- Criptas Tubulares: Dispostas perpendicularmente à superfície mucosa, estendendo-se até a muscular da mucosa. Estas criptas são uniformemente espaçadas, lembrando tubos de ensaio em suporte.
- Criptas ramificadas ocasionais: são normais e não devem ser confundidas com alterações patológicas.
Quanto às células inflamatórias normalmente presentes:
- Plasmócitos: Mais abundantes no terço luminal da mucosa, diminuindo em direção à mucosa profunda. No ceco, frequentemente há distribuição transmucosa de plasmócitos
- Eosinófilos: Altamente variáveis entre populações com variações sazonais. A quantidade varia conforme o segmento colônico, com até 50/CGA no ceco e cólon direito, e até 30/CGA no cólon esquerdo e reto sendo considerados normais.
- Linfócitos: Podem ser vistos na lâmina própria e nas regiões superficiais das criptas e no epitélio luminal, não excedendo 5 a 10 linfócitos/100 células epiteliais.
4. Colite aguda
Definição: O termo “agudo” é usado quando há visível criptite/abscessos de criptas, erosão e/ou ulceração, sem achados histológicos de cronicidade.
Etiologia:
– Infecciosa (bacteriana ou viral): Salmonella, Shigella, Yersinia, Campylobacter, E. Coli, citomegalovírus
– Medicamentos: Anti-inflamatórios não hormonais, Kayexalate, inibidores de checkpoint
– Doença inflamatória intestinal: Embora geralmente estejam presentes achados de cronicidade, apresentações iniciais ou casos parcialmente tratados podem mostrar padrão de colite aguda.
Achados histopatológicos:
– Arquitetura de cripta preservada, sem sinais de cronicidade.
– Lâmina própria edematosa, com infiltrado inflamatório misto rico em neutrófilos, observados no epitélio da cripta (criptite ativa) e formando agregados luminais (abscessos de cripta), que podem resultar em destruição da cripta e erosão ou ulceração da mucosa.
– Hemorragia da lâmina, alterações regenerativas epiteliais com aumento da atividade mitótica e proliferação de células imaturas com depleção de mucina.
Evolução:
Estes pacientes raramente são submetidos a biópsia antes de 30 dias, sendo que a maioria apresenta resolução completa do quadro. Dentro de 2 a 3 semanas, ocorre uma mudança no componente inflamatório, com diminuição de neutrófilos e aumento de linfócitos, plasmócitos e eosinófilos, o que não deve implicar no diagnóstico de cronicidade.
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Colite aguda: mucosa com arquitetura preservada, edema e infiltrado misto na lâmina própria, com neutrófilos agredindo criptas e formando microabscessos.
Pacientes com manifestações atípicas de colite aguda ou aqueles que não respondem à antibioticoterapia podem ser submetidos a biópsia para distinção com doença inflamatória intestinal. É importante que, para melhor avaliação deste dilema diagnóstico, os achados histológicos sejam interpretados à luz das informações clínicas e dados laboratoriais. Na maioria dos casos de colite ulcerativa, mesmo em suas fases iniciais, observa-se linfoplasmocitose basal e distorção arquitetural de criptas.
5. Colite Pseudomembranosa
Definição: Trata-se de um padrão inflamatório caracterizado pela presença de pseudomembranas compostas por detritos celulares, fibrina e inflamação, que recobrem a mucosa.
Achados clínicos: Diarréia, dor abdominal e, em casos graves, megacólon tóxico
Etiologia: Infecção por Clostridium difficile, frequentemente desencadeada por uso de antibióticos que desregulam a microbiota intestinal.
Achados microscópicos:
- Achados de colite aguda com exsudato inflamatório aderente ao epitélio injuriado.
O diagnóstico é confirmado por exames laboratoriais (toxinas de C. difficile) e/ou observação de achados endoscópicos típicos, como placas amarelo-esbranquiçadas recobrindo a mucosa.
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Colite pseudomembranosa – padrão de colite aguda com pseudomembrana composta de neutrófilos e detritos cariorrécticos na superfície luminal.
6. Colite isquêmica
Definição: Inflamação do cólon resultante de uma redução temporária ou persistente do fluxo sanguíneo, levando a hipóxia tecidual e lesão da mucosa, geralmente afetando áreas de vascularização limítrofe, como a flexura esplênica e o cólon sigmoide.
Achados clínicos: Dor abdominal, diarreia e sangramento retal.
Etiologia: As principais causas incluem isquemia, mais comumente em idosos com oclusão vascular ou estados de baixo fluxo, infecções (E.coli e C. Difficile) e medicamentos (anti-inflamatórios não hormonais, Kayexalate, inibidores de checkpoint).
Achados microscópicos:
- Dano ao epitélio superficial com erosão, alterações epiteliais reativas, atrofia de criptas, hialinização e hemorragia na lâmina própria e leve inflamação aguda.
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Colite isquêmica: Mucosa intestinal com erosão, hialinização da lâmina própria com infiltrado inflamatório discreto e microcriptas.
7. Colite crônica ativa
É fundamental evitar o uso do termo “crônico” sem critérios bem definidos, pois ele implica a alterações estruturais específicas que refletem danos persistentes e adaptativos ao longo do tempo. A descrição precisa dessas alterações é essencial para diferenciar entre processos transitórios e condições inflamatórias crônicas, como doença inflamatória intestinal, garantindo um diagnóstico correto e relevante para a conduta clínica.
Abaixo os achados de cronicidade:
- Metaplasia de glândula pilórica e de células de Paneth
- Distorção arquitetural de criptas
- Atrofia ou rarefação de criptas
- Linfoplasmocitose basal
- Aumento do infiltrado mononuclear na lâmina própria (precisa estar associado a um ou mais dos outros achados)
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Achados de cronicidade: Distorção arquitetural de criptas com atrofia e aumento do infiltrado inflamatório crônico da lâmina própria com linfoplasmocitose basal.
As possibilidades etiológicas frente a achados de colite crônica incluem:
7.1. Colite ulcerativa
- A colite ulcerativa é o protótipo da colite crônica ativa, caracterizada clinicamente por exacerbações e remissões de diarreia sanguinolenta e, microscopicamente, por dano predominante à mucosa com distorção arquitetural (ver achados de cronicidade acima) e aumento de células inflamatórias na mucosa.
- Acomete pacientes entre 15-30 anos com segundo pico entre 50-70 anos.
- Inflamação crônica ativa acometendo reto e estendendo-se proximalmente em padrão contínuo e difuso (pancolite)
- Granulomas criptolíticos podem estar presentes.
- Padrões incomuns que podem levar a interpretações errôneas incluem:
- Cicatrização desigual ou efeito do tratamento, com aspecto salteado das alterações microscópicas; Inflamação não difusa no ceco, periapendicecal ou cólon ascendente e ileite de retrolavagem.
- Pacientes pediátricos podem ter inflamação e envolvimento retal variável.
7.2. Doença de Crohn
- A doença de Crohn é uma doença inflamatória de etiologia desconhecida, multifocal, podendo afetar qualquer parte do trato gastrointestinal.
- Acomete pacientes de 20-40 anos com segundo pico entre 50-60 anos, envolvendo o intestino delgado em 80% dos casos e ileocolônico em 30-40% dos casos.
- Manifestações extraintestinais incluem: artrite, uveítes, pioderma gangrenoso, e colangite esclerosante primária.
- Microscopicamente vemos um padrão de agressão glandular segmentar e desigual, erosões aftoides, úlceras serpiginosas, inflamação transmural, fibrose/estenose luminal, fístulas, hipertrofia de filetes nervosos,metaplasia pilórica e ocasionalmente granulomas.
- Em amostras endoscópicas, muitos dos achados acima descritos estão ausentes, dificultando a distinção com colite ulcerativa do ponto de vista microscópico. Geralmente, na doença de Crohn, as alterações arquiteturais e atividade inflamatória são menos proeminentes, mas pode-se observar metaplasia pilórica.
7.3. Infecções
- É importante sempre avaliar a possibilidade de infecção por citomegalovírus em casos de doença inflamatória intestinal refratária.
- Deve-se considerar a possibilidade de doença sexualmente transmitida (DSTs), como sífilis e linfogranuloma venéreo, ao avaliar amostras retais com uma desproporção entre a inflamação crônica na lâmina própria (geralmente intenso) e o grau de distorção de criptas (leve ou sutil). A maioria dos casos de sífilis não mostrará positividade, à imuno-histoquímica, para o agente infeccioso, sendo importante a correlação sorológica.
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Colite associada à infecção por Citomegalovírus. Observa-se processo inflamatório, em atividade, com presença de inclusões virais basofílicas em células endoteliais e estromais .
7.4. Colite associada a doença diverticular
- Geralmente acomete pacientes idosos e a apresentação principal é de sigmoidite com o reto poupado, achado incomum em casos de retocolite ulcerativa.
7.5. Colite associada a desvio cirúrgico
- Caracteriza-se por história procedimento cirúrgico com desvio do fluxo fecal e microscopicamente mucosa com hiperplasia linfoide florida com centros germinativos proeminentes.
7.6. Colite medicamentosa
- Este diagnóstico requer estreita correlação com história clínica e informação sobre uso de medicamentos.
- É um importante mimetizador de doença inflamatória intestinal e pode exibir vários padrões microscópicos.
- Achados que devem levantar suspeita de colite medicamentosa incluem aumento de corpos apoptóticos (um a dois corpos apoptóticos por fragmento tecidual é anormal) e linfocitose intraepitelial.
8. Relatório histopatológico de colite crônica
Elaborar o relatório histopatológico de colite crônica é desafiador devido à diversidade de causas. Uma abordagem estruturada ajuda a organizar os achados, garantindo clareza e precisão mesmo em casos complexos. Abaixo, segue uma sugestão para esta elaboração por etapas.
Etapa 1 – Classificação do padrão de lesão:
Identifique se a colite é aguda ou crônica. A colite crônica pode ser subdividida em ativa (com componente agudo) ou inativa. A atividade inflamatória pode ser graduada da seguinte forma:
- Leve: menos de 50% das criptas apresentam agressão neutrofílica.
- Moderada: mais de 50% das criptas com agressão neutrofílica.
- Intensa: presença de erosões ou ulcerações associadas à inflamação.
Alguns autores fazem a graduação do dano crônico à mucosa com a justificativa de que esta abordagem pode ser útil para monitorar a evolução do curso da doença e avaliar a resposta terapêutica. Assim, graduam como leve (achados não aparentes no menor aumento) e intenso (achados facilmente perceptíveis) e moderado quando os achados são intermediários entre os acima citados.
Em pacientes com diagnóstico conhecido de colite ulcerativa, para quem é requisitada a avaliação de resposta terapêutica, pode-se utilizar escore formal, (como o índice de Nancy por exemplo) ou avaliação qualitativa (normal, quiescente, leve, moderada, grave).
O Índice Histológico de Nancy classifica a inflamação em cinco graus, de 0 a 4, com base em critérios histológicos específicos:
Grau 0: Ausência de infiltrado inflamatório agudo e crônico.
Grau 1: Presença de infiltrado inflamatório crônico leve a moderado, sem infiltrado agudo.
Grau 2: Infiltrado inflamatório crônico associado a infiltrado agudo leve (presença de poucos neutrófilos).
Grau 3: Infiltrado inflamatório crônico com infiltrado agudo moderado a intenso (múltiplos aglomerados de neutrófilos).
Grau 4: Ulceração da mucosa, caracterizada pela perda das criptas colônicas, substituídas por tecido de granulação ou exsudato fibrinopurulento.
Etapa 2- Correlação clinicopatológica (“Ver comentário”):
A etapa anterior pode ser realizada apenas com a morfologia, a qual determina a classificação e a graduação da colite. O aspecto mais interessante dessa abordagem é a etapa final, que é o comentário. Nesta etapa, os achados histológicos são situados no cenário clínico específico, permitindo integrar todas as informações disponíveis e compartilhar a interpretação do patologista sobre o padrão da lesão observado. Para isso, é fundamental que o patologista reúna todos dados fornecidos e, quando necessário, discuta com o clínico para esclarecer dúvidas.
Nos casos de suspeita de doença inflamatória intestinal (DII), algumas questões são úteis para guiar a elaboração do relatório:
- Os achados indicam colite ou ileíte crônica?
- O padrão observado pode ser explicado por uma condição que mimetize DII?
- As informações disponíveis são suficientes para confirmar colite ulcerativa ou doença de Crohn?
Com base na avaliação dos achados, uma das seguintes categorias diagnósticas pode ser utilizada no comentário:
Diagnóstico de Colite Ulcerativa ou Doença de Crohn:
Atribuído quando as características clínicas, endoscópicas e histológicas são consistentes com colite ulcerativa ou doença de Crohn. Assim, um diagnóstico de compatibilidade pode ser feito.
Doença Inflamatória Intestinal não classificável:
- Aplicado quando as características clínicas, endoscópicas e/ou histológicas não permitem diferenciar colite ulcerativa de doença de Crohn, havendo sobreposição de características de ambos os processos.
DII Possível/Provável
- Usado em casos com inflamação crônica histológica, mas dados clínicos e/ou endoscópicos são insuficientes (ex.: amostragem incompleta ou informações clínicas indisponíveis).
DII Improvável
Indicado quando não há características de cronicidade ou outra causa de inflamação crônica é mais provável (ex.: colite associada à doença diverticular).
Observações importantes:
- A ausência de alterações crônicas não exclui DII em estágio inicial. Assim, o acompanhamento com novas biópsias é recomendado em casos de persistência clínica.
- Em todos os relatórios de colite crônica, recomenda-se mencionar a presença ou ausência de displasia e efeito citopático de citomegalovírus.
9. Colite microscópica
Definição: Conjunto de condições inflamatórias crônicas do cólon caracterizadas clinicamente por diarreia crônica aquosa, não sanguinolenta, e sem anormalidades macroscópicas visíveis na endoscopia.
Etiologia:
- Idiopática
- Associada a medicamentos como inibidores de bomba de prótons (IBPs), antiinflamatórios não esteroidais (AINEs), sertralina e outros antidepressivos.
- Doenças autoimunes como doença celíaca e tireoidite autoimune
- Infecções gastrointestinais prévias
Subtipos e achados histológicos: Colite colagenosa e colite linfocítica.
Achados histopatológicos comuns em ambas as entidades: Aumento do infiltrado inflamatório na lâmina própria, composto por linfócitos, plasmócitos e eosinófilos e linfocitose intraepitelial com alterações degenerativas epiteliais como vacuolização citoplasmática, perda de mucina, irregularidade nuclear, picnose e achatamento ou desprendimento epitelial.
- Achado distintivo: na colite colagenosa, há deposição anormal de colágeno subepitelial, com borda irregular, envolvendo capilares, fibroblastos e células inflamatórias (>10 micrômetros).
10. Colite eosinofílica
Definição: Trata-se de condição inflamatória rara do cólon caracterizada por infiltração eosinofílica significativa na mucosa colônica.
Etiologia: Parasitária, doenças do tecido conjuntivo, vasculites, alergias alimentares, medicações, mastocitose sistêmica, histiocitose de células de Langerhans, doença inflamatória intestinal (principalmente doença de Crohn) e gastroenterite/colite eosinofílica.
Achados clínicos: Apresentação variável com muitos pacientes relatando dor abdominal, diarreia e perda de peso.
Achados microscópicos:
- Aumento de eosinófilos intraepiteliais e presença de eosinófilos na muscular da mucosa são sempre anormais, além de degranulação proeminente dos eosinófilos. Tais achados devem ser correlacionados com dados clínicos e laboratoriais.
A contagem de eosinófilos deve ser realizada nas regiões da mucosa mais densamente infiltradas, selecionando de 3 a 5 campos de grande aumento (40x) para obter uma média confiável.
É importante correlacionar a contagem com a localização anatômica do cólon:
- Cólon direito: Até 70 eosinófilos por campo de grande aumento podem ser considerados normais.
- Cólon esquerdo e reto: Valores normais geralmente são mais baixos, variando entre 10 e 30 eosinófilos por campo.
Adenocarcinoma intestinal
O adenocarcinoma colorretal é um tumor epitelial maligno apresentando diferenciação glandular ou mucinosa é considerado o segundo câncer mais comum em mulheres e o terceiro câncer mais comum em homens.
Subtipos:
Adenocarcinoma serrilhado
Adenocarcinoma adenoma-símile
Adenocarcinoma micropapilar
Adenocarcinoma mucinoso
carcinoma de células em anel de sinete
Adenocarcinoma medular
Carcinoma adenoescamoso
Carcinoma indiferenciado
Carcinoma com componente sarcomatoide
Localização
Os carcinomas colorretais (CCRs) são classificados em três grupos com base na localização anatômica:
- Carcinomas do cólon direito ou proximal: Incluem tumores localizados no ceco, cólon ascendente e cólon transverso.
- Carcinomas do cólon esquerdo: Envolvem a flexura esplênica até o cólon sigmoide.
- Carcinomas retais
Principais diferenças relacionadas a localização:
- Distribuição: Maioria dos CCRs ocorre no lado esquerdo ou no reto, com queda na incidência do lado esquerdo devido à maior triagem.
- Triagem: Testes de sangue oculto são mais sensíveis para neoplasias do lado esquerdo.
- Tratamento: Radioterapia ou radioquimioterapia neoadjuvante é padrão para carcinomas retais.
- Complicações cirúrgicas são mais comuns no cólon direito.
- Prognóstico: Localização influencia o comportamento molecular, sucesso terapêutico e desfecho no CCR metastático.
Achados clínicos
- Os sintomas comuns incluem: Alterações nos hábitos intestinais, anemia, hematoquezia e dor abdominal.
- A triagem populacional aumenta a detecção de casos assintomáticos, por sangue oculto nas fezes ou endoscopia.
Etiologia
O câncer colorretal (CCR) resulta de uma combinação de fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida, além de condições predisponentes específicas.
Achados microscópicos
Características Gerais: Adenocarcinomas representam 90% dos casos de câncer colorretal (CCR) e são definidos pela invasão da muscularis mucosae até a submucosa.
Classificados como adenocarcinoma SOE ou subtipos com características clínicas e moleculares específicas.
Subtipos Histológicos
Adenocarcinoma Mucinoso:
Definição: Mais de 50% da lesão é composta por pools de mucina extracelular com células tumorais.
Prevalência: 5% a 20%.
Características: Associado a MSI e resposta limitada a tratamentos sistêmicos.
Prognóstico: Similar ao adenocarcinoma SOE.
Carcinoma de Células em Anel de Sinete:
Definição: >50% das células tumorais com mucina intracitoplasmática e núcleos deslocados.
Prevalência: 1%.
Características: Alta incidência de MSI, forte associação com síndrome de Lynch.
Prognóstico: Pior em comparação com adenocarcinoma SOE.
Carcinoma Medular
Definição: Células neoplásicas com núcleos vesiculosos em arranjo sólido sincicial e infiltração linfocitária/neutrofílica.
Prevalência: 4%.
Características: Alta frequência de MSI e mutações BRAF.
Prognóstico: Favorável.
Adenocarcinoma Serrilhado
Definição: Glandularidade serrilhada com áreas mucinosas, semelhante a pólipos serrilhados.
Prevalência: 10% a 15%.
Adenocarcinoma Micropapilar
Definição: Aglomerados celulares em espaços estromais que imitam canais vasculares.
Prevalência: 5% a 20%.
Prognóstico: Pobre, com alto risco de metástase linfonodal.
Adenocarcinoma Tipo Adenoma
Definição: ≥50% das áreas invasivas com arquitetura similar a adenoma viloso.
Prevalência: 3% a 9%.
Características: Alta taxa de mutação KRAS.
Prognóstico: Favorável.
Carcinoma Adenoescamoso
Definição: Componentes de adenocarcinoma e carcinoma de células escamosas.
Prevalência: <0,1%.
Carcinomas com Componentes Sarcomatoides
Definição: Tumores com células fusiformes, rabdoides ou características indiferenciadas.
Características: Perda de SMARCB1 e anormalidades do complexo SWI/SNF.
Prognóstico: Reservado, frequentemente em tumores avançados.
Carcinoma Indiferenciado
Definição: Sem evidências de diferenciação epitelial, morfológica ou imunohistoquímica.
Características: Diferem-se dos medulares pela ausência de infiltrado linfoplasmocitário proeminente e padrão sincicial.
Graduação
Tumores de Baixo Grau:
- Incluem os previamente classificados como bem diferenciados e moderadamente diferenciados.
- Apresentam formação glandular significativa, indicando um padrão menos agressivo.
Tumores de Alto Grau
- Correspondem aos anteriormente classificados como pouco diferenciados.
- Caracterizados por formação glandular limitada ou ausente, indicando maior agressividade.
Laudo anatomopatológico sugerido para material de biópsia:
- Designação do material e topografia
- Tipo e subtipo histológico (classificação da OMS)
- Grau de diferenciação histológica
- Nível de infiltração na amostra
- Invasão angiolinfática e perineural (sempre que possível)
- Mucosa adjacente
Laudo anatomopatológico sugerido para material de polipectomia: