Livino Virgínio Pinheiro Júnior e a Patologia
Livino, nosso amigo e colega falecido tão
prematuramente, teve sua formação em Patologia no Departamento de Patologia e
Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará e no Serviço de Patologia do
Hospital Universitário Antônio Pedro, pertencente à Universidade Federal
Fluminense, em Niterói, onde realizou centenas de autópsias e exames
histológicos de biópsias e peças cirúrgicas, durante seu Mestrado naquela
cidade.
Desde o início, seu foco na Patologia foi o
exame do cadáver, a quem ele chamava carinhosamente de “doentin”. Quando era um
recém-nascido prematuro ou de baixo peso, Livino dizia “tem um ‘vem vem’ pra
aula de necrópsia”, em alusão ao pequeno pássaro. Livino tinha enorme
satisfação na realização de autópsias, quer ensinando os residentes, quer nas
aulas a alunos do curso de medicina no anfiteatro. E participava ativamente,
junto com outros professores, da organização e apresentação das famosas Sessões
de Necrópsias das sextas feiras na Patologia. Tratava a todos, colegas,
estudantes, funcionários, com atenção e zelo.
Convidado para iniciar as atividades do
recém-criado, à época, Serviço de Verificação de Óbitos, em Messejana, exerceu
essa atividade por algum tempo, sem nenhum cargo oficial, pela satisfação de
colaborar na estruturação do serviço, sempre dedicado e atencioso com o morto e
seus familiares. O seguinte depoimento de nossa colega Denise Nunes, primeira
diretora oficialmente nomeada para o SVO, mostra bem o Livino patologista: “Ele
fez a primeira necropsia do SVO, a paciente tinha um aneurisma dissecante da
aorta. Contaminou todos com seu entusiasmo! O seu carisma fazia com que as
famílias autorizassem as necropsias. E demonstrava muita paixão com o que ele
fazia.”
Mas foi na Faculdade de Medicina sua maior
contribuição à Patologia, coordenando o Setor de Autópsias e realizando aulas
magistrais a partir do “doentin”, difundindo a Ciência de Morgagni e Virchow.
Há alguns anos, o anfiteatro de autópsias de nosso departamento recebeu seu
nome justa homenagem a quem tanto se dedicou a esta atividade essencial da
Patologia.
A você, Livino, patologista de mérito,
entusiasta da autópsia e professor impecável, agradecemos sua contribuição à
nossa especialidade. Você pôs em prática, com excelência, a máxima de
Rokitansky “mortui vivos docent” (os mortos ensinam os vivos). E você
também ensinou e continuará ensinando os vivos. Foi um privilégio termos no
convívio uma figura humana tão especial.
Paulo Roberto Carvalho de Almeida
Patologista
Professor do Departamento de Patologia e
Medicina Legal
Universidade Federal do Ceará