Maria Cláudia Nogueira Zerbini
Códigos de topografia
l. Identificação
Nome do paciente:
Idade: Sexo:
Médico requisitante:________________________
Telefone de contato: (__) ____________
II. Resumo clínico
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
- Biópsia diagnóstica
- Análise de possível recorrência
- Ignorado
Linfadenopatia
- Única
- Localizada
- Disseminada
- Ignorado
Especificar local______________________
Massa tumoral
- Sim
- Não
Especificar local _____________________
Comprometimento mediastinal
- Sim
- Não
- Ignorado
Tamanho aproximado ____ cm
Hepatomegalia
- Sim
- Não
- Ignorado
Esplenomegalia
- Sim
- Não
- Ignorado
Hemograma
Hemoglobina ____ g/L
Leucócitos ____ mm³
Linfócitos ____
Plaquetas ____ mm³
Outros dados _____________________
Ignorado
Sintomas constitucionais
- Não
- Sim
- Febre (> 38°C)
- Sudorese noturna
- Perda de peso (> 10% do peso nos últimos 6 meses)
- Outro (especificar) ______________________
- Ignorado
Antecedentes possivelmente relacionados à patogênese de linfomas
- Infecção pelo HIV
- Infecção pelo HTLV-1
- Infecção pelo EBV
- Infecção pelo Helicobacter pylori
- Infecção pelo HHV-8
- Infecção por hepatite C
- Doença imune _______________________
- Outros (especificar) ___________________
- Ignorado
Tempo de duração da doença _____ meses ou anos
Quando da análise de possível recorrência
- Tempo de doença _____ meses
- Tempo livre de doença _____ meses
- Ignorado
Terapia utilizada
- Radioterapia (quantificar) ______________________
- Quimioterapia (especificar) ______________________
- Imunoterapia (especificar) _______________________
- Ignorado
Tipo histológico (diagnóstico prévio – quando da análise de recorrência)
- Linfoma de Hodgkin Predominância linfocitária nodular (LH-PLN)
- Linfoma de Hodgkin clássico (LHC)
- Esclerose nodular (LHC-EN)
- Grau I
- Grau II
- Celularidade mista (LHC-CM)
- Clássico, rico em linfócitos (LHC-RL)
- Depleção linfocitária (LHC-DL)
- Fibrose difusa
- Reticular
- Outro (especificar) ______________________
- Esclerose nodular (LHC-EN)
Estádio ao diagnóstico (ver item “X. Apêndice)
- I
- II
- III
- IV
- A
- B
- E
- Ignorado
III. Procedimento cirúrgico
Local da biópsia ______________________
Tipo de biópsia
- Excisional, linfonodo único
- Excisional, linfonodos coalescentes
- Incisional, massa tumoral
- Linfonodo-satélite
- Biopsia por agulha grossa (“core” biópsia)
- Outro (especificar) ______________________
IV. Exame macroscópico
Tamanho da peça ___ x ___ x ___ cm
Enviado
- Intacto
- Não intacto
- A fresco
- Em fixador (especificar) _______________________________________
- Revisão d material externo – especificação_________________________
Consistência
- Amolecida
- Elástica
- Fibrosa
- Pétrea
Superfície externa
- Regular/intacta
- Irregular
Superfície externa
- Regular/intacta
- Irregular
Coloração
- Homogênea
- Heterogênea
- Descrever ______________________
Superfície de corte
- Difusa
- Nodular
- Fibrótica
- Sarcomatosa
- Necrótica
- Hemorrágica
- Outra (especificar) ______________________
- Fixação no laboratório
- Formalina a 10% tamponada
- Outra (especificar) ______________________
Material congelado
- Sim
- Não
Preparado citológico (imprint ou rasprint)
- Sim
- Não
Documentação fotográfica
- Sim
- Não
Radiografia
- Sim
- Não
Estudos especiais
- Microbiológico
- Citometria de fluxo
- Estudo molecular (especificar) ______________________
- Outro (especificar) ______________________
- Principais resultados ______________________
V. Exame microscópico
Cápsula
- Normal
- Espessada
- Espessada com septos
- Infiltrada
Padrão arquitetural
- Mantido
- Parcialmente alterado
- Totalmente alterado
Arranjo da proliferação
- Difusa
- Nodular, com pequenos nódulos
- Nodular, com nódulos grandes
- Nodular e difusa
- Esboçando nodularidade
- Imprecisa
Fibrose
- Ausente
- Traves finas e incompletas
- Traves completas delimitando nódulos
- Traves irregulares
- Fibrose intersticial
Vascularização
- Pouco evidente
- Muita proliferação vascular
Necrose
- Ausente
- Pequeno(s) foco(s)
- Áreas extensas
Fundo celular (R: raros; P: pequena quantidade; M: moderada quantidade; N: numerosos)
- Linfócitos
- Plasmócitos
- Histiócitos
- Neutrófilos
- Eosinófilos
- Granulomas
- Células estromais (mastócitos, células reticulares, fibroblastos).
Células neoplásicas (A: ausentes; R: raras; P: pequena quantidade; M: moderada quantidade; N: numerosos)
- Células LP
- Clássicas
- Mononucleadas
- Mumificadas
- Bizarras
- Lacunares
Distribuição das células neoplásicas
- Sinusal
- Cortical
- Interfolicular
- Difusa
- Irregular
Outros achados relevantes (calcificação, etc.) ______________________
Classificação histológica (OMS, ver item “X Apêndice”)
- Linfoma de Hodgkin, predominância linfocitária nodular
- Sem áreas difusas
- Com áreas difusas
- Padrão immunoarquitetural (ver item X.2, Apêndice)
- A: Clássico – nodular, rico em células B
- B: Serpiginoso
- C: Células LP (Lymphocyte Predominant) extras nodulares proeminentes
- D: Nodular rico em células T
- E: Difuso (LGCB-RTH-símile ou LDGCB-símile) *
- F: Difuso em saca-bocado, rico em células B
- *LGCB-RTH: Linfoma de grandes células B rico em células T e histiócitos; LDGCB: Linfoma difuso de grandes células B
- Linfoma de Hodgkin clássico (LHC)
- Linfoma de Hodgkin clássico, esclerose nodular (LHC-EM)
- Grau I
- Grau II
- Linfoma de Hodgkin clássico, celularidade mista (LHC-CM)
- Linfoma de Hodgkin clássico, rico em linfócitos (LHC-RL)
- Linfoma de Hodgkin clássico, depleção linfocitária (LHC-DL)
- Fibrose difusa
- Reticular
- Linfoma de Hodgkin clássico, inclassificável (LHC-I)
Quando mais de um linfonodo for enviado, anotar topografia e número de linfonodos acometidos pelo linfoma _____________________
VI. Estádio (ver item “X. Apêndice”)
Medula óssea
- Positiva
- % do fragmento acometida: _______%
- Negativa
- Não avaliada
Fígado
- Positivo
- Negativo
- Não avaliado
Baço
- Positivo
- Negativo
- Não avaliado
Outras topografias (especificar) ______________________
VII. Técnica imuno-histoquímica
Os seguintes marcadores devem ser utilizados, mencionando-se no resultado se a positividade é nas células neoplásicas ou nas células de fundo: CD20, CD3, CD15, CD30, EBV/LMP1, PAX5, EBV-EBER, CD45, OCT2, BOB1, CD57, MUM1 (em negrito os essenciais)
Ver Comentário X.4.
VIII. Diagnóstico final (exemplos)
Biópsia de linfonodo axilar:
– Linfoma de Hodgkin clássico, esclerose nodular, grau I.
– Linfoma de Hodgkin, predominância linfocitária nodular, padrão imuno arquitetural clássico (tipo A), segundo Fan Z et al, 2003.
IX. Patologista responsável
Nome legível ____________________________________________
Assinatura _______________________________________________
CRM _______________________ Data ___ /___ /___
X. Apêndice
X.1 Roteiro para o processamento do linfonodo
Preferencialmente, o linfonodo (LN) deve ser retirado por inteiro e enviado imediatamente a fresco para o patologista, evitando-se o pinçamento. Embora o tamanho não esteja correlacionado com o envolvimento por neoplasia, se houver LN de vários tamanhos, possíveis de serem retirados, o maior deve ter a preferência. Ao transportar o LN para o serviço de patologia, deve-se ter o cuidado de não ressecá-lo (como ocorre se ele for colocado em gaze). Se o LN for pequeno (< 1 cm), pode ser cortado no maior eixo. Se for maior, secções transversais de 2 a 3 mm de espessura podem ser feitas para o estudo histológico, entre outros. Essas secções devem ser feitas com lâmina afiada e estéril, para evitar contaminações para os estudos microbiológicos e de biologia molecular.
Preparados citológicos (imprints) devem ser feitos e processados de duas maneiras: (1) rapidamente secados ao ar; (2) fixados imediatamente em álcool a 95°. Os primeiros podem ser corados com coloração de Giemsa ou de Leishman e fornecem detalhes especiais para o diagnóstico de leucemias não linfoides, linfoma linfoblástico e linfoma de Burkitt. Além do mais, prestam-se a estudos citoquímicos, como esterase ácida, esterase inespecífica, cloroacetatoesterase, peroxidase, coloração Sudan negro e outros. Os fixados em álcool podem ser corados com HE e fornecem bons detalhes para neoplasias não hematológicas.
Quando a suspeita de processo infeccioso for predominante, fragmentos estéreis devem ser enviados em meios de cultura adequados para estudos microbiológicos. O fixador universal, a formalina a 10% de boa qualidade, tamponada, por no máximo 24 horas, resolve a maior parte dos problemas diagnósticos: coloração HE, colorações especiais, boa parte dos marcadores imuno-histoquímicos e para a pesquisa do EBER/EBV pela hibridação in situ cromogênica. Para todos os demais estudos possíveis que podem ser necessários para o diagnóstico de linfoma, como os de biologia molecular, o rápido processamento do material e seu armazenamento em freezer a –80°C ou em nitrogênio líquido é crucial. É importante ressaltar que cada laboratório deve ter um protocolo por escrito de processamento dos espécimes, que possa ser seguido de forma padronizada. Além disso, a identificação precisa de todos os fragmentos é essencial.
Deve ser ressaltado, que no caso do linfoma de Hodgkin, o diagnóstico anatomopatológico é fundamentado na morfologia ao HE e na confirmação com a técnica imuno-histoquímica. Os exames moleculares (FISH, determinação de clonalidade) não são de utilidade, a não ser em raras situações de diagnóstico diferencial com linfomas não Hodgkin, nas quais esses exames possam eventualmente trazer alguma informação útil.
X.2 Classificação da OMS para os linfomas de Hodgkin
Os linfomas de Hodgkin (LH) são classificados, segundo a OMS (2017), em:
- LH de predominância linfocitária (nodular, com ou sem áreas difusas) (10%).
A OMS, 2017 recomenda a notificação no laudo do padrão imunoarquitetural do LH-PLN, segundo Fan Z et al, 2003:
- Padrão immunoarquitetural
- A: Clássico – nodular, rico em células B
- B: Serpiginoso
- C: Células LP extra nodulares proeminentes
- D: Nodular rico em células T
- E: Difuso (TCRBCL-símile ou DLBCL-símile)
- F: Difuso em saca-bocado, rico em células B
pelo fato dos padrões C, D, E e F estarem associados mais frequentemente a doença avançada e maior probabilidade de recorrência quando comparados ao LH-PLN dos padrões A e B
- LH clássico (90%).
- Esclerose nodular (graus I e II).
- Celularidade mista.
- Rico em linfócitos.
- Depleção linfocitária (fibrose difusa ou reticular).
Os critérios para se graduar a esclerose nodular em grau II são:
- Mais de 25% de nódulos com padrão em depleção linfocitária.
- Mais de 25% dos nódulos com proliferação de células de Reed-Sternberg bizarras.
• 75% ou mais de nódulos com proliferação fibro-histiocítica, com células lacunares escassas ou de Hodgkin. - A forma sincicial está inclusa no grau II.
Se a esclerose nodular não obedecer a nenhum desses critérios, deve ser graduada como grau I. É importante notar que ainda há controvérsias na literatura sobre a relevância da subdivisão da esclerose nodular em graus I e II (ver a seguir).
X.3 Estádio dos linfomas malignos
O estádio de todos os linfomas é feito da seguinte forma, segundo a classificação de Lugano (derivado da classificação de Ann Arbour, modificado no Encontro de Costwold):
- Estádio I: envolvimento de uma única região nodal ou de apenas uma estrutura linfoide tais como o baço, timo, ou anel de Waldeyer.
- Estádio II: envolvimento de dois ou mais linfonodos ou regiões nodais do mesmo lado do diafragma. Os LN dos hilos pulmonares D e E devem ser contados como regiões separadas. O número de linfonodos envolvidos pode ser indicado na forma subscrita (exemplo, II3).
- Estádio III: envolvimento de linfonodos ou regiões nodais dos dois lados do diafragma. III-1 é usado para envolvimento do Baço ou linfonodos (LNs) do hilo esplênico, e III-2 para o envolvimento dos LNs para aórticos, ilíacos, inguinais ou mesentéricos.
- Estádio IV: doença disseminada, multifocal, envolvendo um ou mais órgãos extranodais exceto os designados como E, com ou sem associação com envolvimento nodal (p. ex., fígado, medula óssea).
– E – refere-se a extensão extranodal contígua
– “Bulky”- refere-se a massa nodal única ³10cm ou ³1/3 do diâmetro transtorácico a qualquer nível das vértebras torácicas, conforme determinado pela tomografia computadorizada.
– O subscrito RS é utilizado para designar o estádio no momento da recorrência.
– O estadiamento pode ser clínico e/ou patológico. Esplenectomia, biópsia hepática, biópsia de LN, e/ou biópsia de medula óssea são mandatórios para se estabelecer o estádio patológico. O estádio patológico de um determinado local é registrado pelo subscrito (ex., M=medula óssea, H=fígado, L=pulmão, O=osso, P=pleura e D=pele).
– Além da ideia de extensão da doença, deve-se associar a informação da presença de sintomas:
- A: sem sintomas.
- B: com sintomas: febre de origem desconhecida acima de 38°C; sudorese noturna profusa, que necessita de troca das roupas de cama; perda inexplicada de mais de 10% do peso nos 6 meses precedentes ao diagnóstico.*
* Nota: O prurido isolado não corresponde ao sintoma B, nem intolerância ao álcool, fadiga ou períodos isolados e curtos de febre associados com episódios infecciosos.
X.4 Comentários sobre achados imuno-histoquímicos
Atualmente, é muito importante a confirmação do diagnóstico de LH por imuno-histoquímica. Primeiramente, é relevante diferenciar os LH clássicos da predominância linfocitária nodular, pois esta apresenta comportamento biológico particular. Também é importante diferenciar os LH dos linfomas não Hodgkin (LNH) e, mais raramente, de metástases de carcinomas ou melanomas. Praticamente todos os LH são originários de células linfoides B foliculares (raríssimos casos T). Existe clara distinção entre os LH de predominância linfocitária nodular e os LH clássicos. Os primeiros apresentam células neoplásicas (L&H) positivas para CD45, CD20, frequentemente para EMA, enquanto são negativas para CD15, CD30 e vírus Epstein-Barr (EBV), seja por imuno-histoquímica (anticorpo anti-LMP1), ou por hibridização in situ (sonda de oligonucleotídeo EBER). Os pequenos linfócitos infiltrantes são, na maioria, de imunofenótipo B.
Os LH clássicos apresentam o seguinte perfil de reatividade nas células neoplásicas (Hodgkin e Reed-Sternberg):
- CD30: por definição, deve ser positivo nos LH clássicos. Artefatos técnicos podem ser responsáveis por sua não expressão. Deve-se lembrar de que o CD30 não é um marcador específico de linhagem ou da neoplasia, podendo ser expresso em imunoblastos B ou T em processos reativos, no LNH de grandes células T/null (menos frequentemente, em outros LNH) e no carcinoma embrionário, entre outros.
- CD15: a literatura refere positividade deste marcador em cerca de 80 a 90% dos LH clássicos. Na experiência dos autores, esta frequência é um pouco mais baixa (58%), o que pode indicar artefato técnico ou variação geográfica. Este marcador também não é específico, sendo expresso em células mieloides normais e neoplásicas e em adenocarcinomas de vários sítios.
• CD45 e EMA: raramente são expressos no LH clássico. Sua utilização em um painel para confirmação de LH clássico só se justifica quando há lençóis de células neoplásicas e não apenas células H-RS esparsas, pois linfócitos que formam rosetas em torno dessas células são positivas para CD45, impedindo a avaliação da real reatividade da célula neoplásica. - CD20 e outros marcadores linfoides B: embora os LH clássicos sejam neoplasias linfoides B, não costumam expressar estes marcadores. Podem ser positivos nas células H-RS em porcentagens variadas de casos, segundo a literatura. Na experiência dos autores, essa expressão não ultrapassa os 10% dos LH clássicos e geralmente ocorre em intensidades variadas nas células neoplásicas de um mesmo caso, e não em todas elas. Nos casos em que essa expressão é mais pronunciada, há dificuldade em se diferenciar o LH clássico, tanto dos LH -PLN quanto dos LNH de grandes células B, especialmente da variante rica em linfócitos T/histiócitos. A avaliação do painel como um todo pode ser de ajuda na interpretação do caso. O CD20 também é útil na detecção de nódulos, em particular nas lesões que parecem difusas no HE.
• CD3 e outros marcadores linfoides T: raramente são positivos nas células H-RS. Este marcador é útil para identificar a formação de rosetas de células T em torno das cé- lulas L&P do LH de predominância linfocitária. Nos LH clássicos, a maioria dos linfócitos reativos é de imunofenótipo T. Constituem uma exceção os LH clássicos ricos em linfócitos, que apresentam numerosos linfócitos B infiltrantes, simulando um LH de predominância linfocitária (no entanto, os clássicos são CD15 e CD30+). - LMP1/EBV: a detecção do EBV nas células neoplásicas dos LH clássicos é descrita na literatura como sendo da ordem de 30 a 50%. No Brasil, foi detectado EBV (por imuno-histoquímica ou hibridização in situ) em 64% dos casos. Esse achado ajuda a diferenciar os LH clássicos dos LH de predominância linfocitária e dos LNH de grandes células B ou anaplásicos T/null, que costumam ser negativos. Outros marcadores podem ser incluídos em um painel diagnóstico, dependendo dos diferenciais:
- Com linfoma não Hodgkin de grandes células anaplásicas T/null: ALK-1, PAX5.
• Com neoplasias não hematológicas (na forma sincicial do LH): pancitoqueratinas (carcinomas), proteína S100, HMB45 e melan-A (melanoma).
• PAX5: é um fator de transcrição expresso nas células B desde as fases precoces de sua diferenciação ainda na medula óssea. Tem sido acrescentado no painel para o diagnóstico do linfoma de Hodgkin clássico, pois apresenta padrão de expressão nuclear característico de fraca intensidade, quando comparado ao linfócito B reativo. Auxilia também no diagnóstico diferencial com o LNH de grandes células anaplásicas (sempre negativo), particularmente nos casos em que o CD15 for negativo. Convém ressaltar que no LH de predominância linfocitária nodular, o PAX5 também mostra positividade nuclear de fraca intensidade, não sendo útil para diferenciá-lo do LH clássico.
• OCT-2 e BOB1: são fatores de transcrição de células B geralmente expressos nas células LP do LH-PLN e negativos nas células H-RS da forma clássica.
No LH predominância lonfocitária nodular,
- O imunofenótipo das células neoplásicas, designadas como células LP, é CD20+/PAX5+/OCT2+/BOB1+/CD30-/CD15-. O EBV (LMP1 e EBER) é em geral negativo nesse subtipo histológico.
- CD57: a maioria das células LP é envolta por uma roseta de células CD3 positivas e frequentemente por células CD57 positivas.
- CD21/CD23/CD35: são muito úteis para marcar a trama de células foliculares dendríticas com arranjo nodular ressaltando a presença dos folículos linfoides. Para lesões que aparecem totalmente difusas no H&E, a imunomarcação com um desses 3 anticorpos é necessária para detectar a presença das células LP em associação com células B pequenas e estruturas foliculares residuais. A detecção de uma de tais áreas é suficiente para excluir o diagnóstico de TCRLBCL.
X.5 Fatores de prognóstico
O modelo prognóstico utilizado para o linfoma de Hodgkin clássico na categorização de grupos de baixo e alto riscos é centrado em parâmetros clínicos e laboratoriais, considerados indicativos das alterações moleculares subjacentes. O escore prognóstico internacional (international prognostic score [IPS]) foi definido como o número de fatores prognósticos adversos presentes no diagnóstico de pacientes com estádios avançados de LHC. O modelo estatístico final definido pelos autores incorporou sete fatores prognósticos independentes entre si, relacionados à menor sobrevida livre de progressão (SLP). São representados por: (1) níveis séricos de albumina menor do que 4 g/dL; (2) hemoglobina menor do que 10,5 g/dL; (3) leucocitose (contagem de pelo menos 15.000/mm³); (4) linfopenia (contagem menor que 600/mm³ ou correspondente a menos que 8% do total da série branca ou ambos), refletindo a reação inflamatória associada e a liberação de citocinas; (5) sexo masculino; (6) idade maior ou igual a 45 anos; e (7) estádio IV (de acordo com a classificação de Ann Arbor modificada), refletindo o potencial de disseminação da doença.
Tipo histológico: a predominância linfocitária apresenta-se mais frequentemente no estádio I; quando há recidiva, não compromete o prognóstico. A recidiva nos LH clássicos traduz pior prognóstico. Nos estádios I e II, os tipos de celularidade mista e depleção linfocitária estão associados com pior prognóstico. Em relação à graduação do tipo esclerose nodular em graus I e II, ainda não há consenso sobre o seu valor prognóstico. No estudo dos autores, a subdivisão da EN em graus não se correlacionou com sobrevida, mas apenas com o tempo de história da doença, sendo mais curta no grau II (em que foi demonstrada também maior proliferação celular).
No LH-PLN, dos padrões imunoarquiteturais C, D, E e F de Fan Z et al, estão associados mais frequentemente a doença avançada e maior probabilidade de recorrência quando comparados ao LH-PLN dos padrões A e B.
X.6 Diagnósticos diferenciais importantes
X.6.1 Linfoma da zona cinzenta
O diagnóstico de linfoma da zona cinzenta deve ser feito quando houver forte expressão de CD15 em uma área característica de linfoma de grandes células B, expressão forte e difusa de CD20 e/ou outro marcador B, como o CD79a, em caso morfologicamente sugestivo de linfoma de Hodgkin clássico, mas muito rico em células neoplásicas grandes (Tabela 1).
Tabela 1 Perfil habitual dos linfomas de Hodgkin clássico e não Hodgkin B mediastinal.
Marcador | Linfoma de Hodgkin clássico | Linfoma de grandes células B (tímico) primário do mediastino |
CD45 | – | ++ |
CD30 | +++ | +/– |
CD15 | ++ (em 85% dos casos) | – |
CD20 | –/+ fraco | +++ |
CD79a | – | +++ |
PAX5 | + fraco | +++ |
BOB1 e OCT2 (fatores de transcrição indicativos da maquinária da célula B completa) | Geralmente – (um deles ou ambos) | ++ |
MAL | –/+ | Geralmente + |
CD23 | –/+ | Geralmente + |
X.6.2 Linfoma de Hodgkin clássico e linfoma de grandes células anaplásicas T/null CD30+
Embora estas duas entidades não apresentem uma interface biológica que caracteriza os Linfomas chamados da zona cinzenta, são entidades que podem apresentar características morfológicas semelhantes, induzindo a equívocos diagnósticos.
Tabela 2 Perfil imuno-histoquímico comparativo do LHC e do Linfoma não Hodgkin de grandes células anaplásicas.
Marcador | Linfoma de Hodgkin clássico | Linfoma não Hodgkin de grandes células anaplásicas |
CD20 | – (+ em ~10 a 15%)1 | – |
PAX5 | +2 | – |
Pan-T | – | –/+3 |
CD15 | + (~70 a 80%) | – (Raramente +) |
CD30 | + | + |
EBV | + (~30 a 60%)4 | – |
CD43 | Raramente + | Frequentemente + |
EMA | Raramente + | Frequentemente + |
BNH9 | Raramente + | Frequentemente + |
Grânulos citotóxicos | – | + |
CD246/ALK | – | + (~60 a 80%) |
Análise molecular | Rearranjo de Ig | Rearranjo de RCT |
EBV: vírus Epstein-Barr; EMA: antígeno epitelial de membrana; Ig: imunoglobulinas;
RCT: receptor de células T.
¹: a positividade, quando presente, é heterogênea de célula para célula; ²: a positividade nuclear é mais fraca nas células de Hodgkin e Reed-Sternberg que nos linfócitos B presentes; ³: deve-se utilizar amplo espectro de marcadores Pan-T, pois o CD3 é positivo em apenas 25% dos casos; 4: a frequência da expressão de EBV é maior em países menos desenvolvidos, em indivíduos imunossuprimidos e no tipo de celularidade mista.
X.6.3 Diagnóstico diferencial entre linfoma de grandes células B rico em linfócitos T/ histiócitos (LGCB-RTH) e linfoma de Hodgkin, com predominância linfocitária nodular (LH-PLN)
Tabela 3 Diagnóstico diferencial entre LDGCB-rTH e LH-pln.
Marcador | LGCB-RTH | LH-PLN |
Pan-B nas células neoplásicas | +++ | +++ |
BCL-2 nas células neoplásicas | Raramente + | + (~40%) |
Células neoplásicas envoltas em células reticulares dendríticas (CD21 e/ou CD23)1 | + | – |
Pan-B nos pequenos linfócitos | +/–2 | –3 |
Pan-T nos pequenos linfócitos | –/+ | + |
Rosetas de linfócitos CD57+ | + (30 a 40%) | Raramente + |
CD15 | – | – |
CD30 | – | – |
EMA4 | + | + |
EBV | – | – |
Pesquisa de rearranjo clonal de Ig nas células neoplásicas5 | + | + |
EMA: antígeno epitelial de membrana; EBV: vírus Epstein-Barr; Ig: imunoglobulinas; +/-: linfócitos B são predominantes; -/+: linfócitos T são menos frequentes que os B, principalmente entre os nódulos de linfócitos B; ¹ : este achado independe do fenótipo dos pequenos linfócitos infiltrantes, uma vez que há raros casos de LH-pln com grande número de células T; ² : os linfócitos B mantêm a nodularidade, mesmo que focalmente; ³ : se houver linfócitos B, são esparsos, sem formação de agregados nodulares; 4: ambos com 30 a 35% de expressão; 5 : feita por técnicas moleculares, como a reação em cadeia da polimerase (PCR) aplicável também em tecidos de parafina.
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