Isabela Werneck da Cunha
Código de topografia
C64 Neoplasia maligna do rim, exceto pelve renal
- Identificação e resumo clínico
- Procedimento
- Nefrectomia radical
- Nefrectomia parcial
- Enucleação tumoral
- Biópsia
- Incisional, agulha
- Incisional, cunha
- Outro (especificar) ___________
III. Exame macroscópico da peça cirúrgica
III.1 Lateralidade do espécime
- Direito
- Esquerdo
- Não especificado
III.2 Localização do tumor no rim
- Polo superior
- Polo inferior
- Porção mediana
- Multifocal
- Enucleação
- Outra (especificar) __________
- Não especificado
III.3 Extensão macroscópica
- Limitada ao rim
- Gordura do seio renal
- Pelve renal
- Gordura perirrenal
- Veia renal
- Suprarrenal
- Contiguidade (pT4)
- Descontínuo (M1)
- Órgãos adjacentes (especificar) __________
III.4 Focalidade tumoral
- Unifocal
- Multifocal
III.5 Dimensões (do maior tumor, se múltiplo)
( ____ x ____ x ____ cm)
III.6 Tumor confinado ao rim
- Sim
- Não
III.7 Extensão perinefrética (fáscia de Gerota)
- Sim
- Não
- Processamento macroscópico
IV.1 Nefrectomia radical
- Um fragmento a cada centímetro do tumor
b. Transição tumor-parênquima normal
c. Transição tumor-seio renal ou pelve
d. Transição tumor/gordura extrarenal (se presente) - Vasos do hilo renal
- Artéria
ii. Veia
iii. Trombo tumoral + margem cirúrgica - Ureter
f. Linfonodos do hilo renal - Exame microscópico
V.1 Tipo histológico
- Carcinoma de células renais
- Células claras
- Neoplasia cística multilocular de células caras de baixo potencial de malignidade
- Carcinoma de células claras (túbulo) papilífero
- Papilífero
- Tipo I
- Tipo II
- Cromófobo
- Ductos coletores
- Medular
- Translocação Xp11.2 e fusões do gene TFE3/TFEB
- Carcinoma de células fusiformes e tubular mucinoso
- Tubulocístico
- Associado à doença renal cística adquirida
- Associado à Sindrome de Leiomiomatose hereditária (HLRCC) ou deficiência de fumarato hidratase (FH)
- Associado à deficiência de SDH
- Inclassificável
- Outros (especificar) ________________________
- Outras neoplasia( especificar)
- Oncocitoma
- Angiomiolipoma
- Adenoma metanéfrico
- (Outros) ______________________________
V.2 Áreas de diferenciação sarcomatosa
- Sim*
- Não
*Nota: Especificar porcentagem do padrão sarcomatoide _____ %
V.3 Áreas de diferenciação rabdóide
- Sim*
- Não
*Nota: Especificar porcentagem do padrão rabdóide _____ %
V.4 Grau nuclear/Nucleolar (WHO/ISUP)
- G1 – Nucléolo ausente ou imperceptível e basofílico ao aumento de 400x
- G2 – Nucléolo visível ao aumento de 400x mas não visível ao aumento de 100x
- G3 – Nucléolo presente ao aumento de 100x
- G4 – Núcleo bizarros com extenso pleomorfismo, e/ou diferenciaçãoo sarcomatóide ou Rabdóide
Achados patológicos adicionais
V.5.1 Necrose tumoral (qualquer quantidade)
- Sim
- Não
V.5.2 Invasão da cápsula e gordura perirrenal
- Sim
- Não
V.5.3 Invasão de gordura do seio renal
- Sim
- Não
V.5.4 Padrão de crescimento tumoral
- Expansivo
- Infiltrativo
V.5.5 Margens cirúrgicas
- Livres
- Comprometidas (p. ex., fáscia de Gerota, veia renal, margem ureteral, etc.) (especificar) _________________
V.5.6 Êmbolos neoplásicos na microvasculatura tumoral
- Sim
- Não
V.5.7 Trombo tumoral na veia renal
- Sim
- Não
V.5.8 Trombo tumoral na veia cava
- Sim
- Não
V.5.9 Suprarrenal
- Não identificada
- Sem anormalidades
- Extensão direta do tumor (T4)
- Neoplasia metastática (M1)
- Outras alterações (especificar) ____________
V.5.10 Linfonodos hilares ou enviados em separado
- Total de linfonodos enviados: ________
- Metástase presente: ________ (número)
- Livres de neoplasia: ________ (número)
V.6 Achados patológicos no parênquima renal não neoplásico
- Tecido insuficiente (espécime de nefrectomia parcial com < 5 mm de tecido não neoplásico adjacente)
- Alterações patológicas significativas
- Nenhuma identificada
- Doença glomerular (especificar tipo) ____________
- Doença tubulointersticial (especificar tipo) ____________
- Doença vascular (especificar tipo) ____________
- Outra (especificar) ____________
V.7 Outras lesões
- Cisto(s) (especificar tipo)
- Adenoma papilar
- Outro (especificar) ____________
- Diagnóstico final (exemplo)
Produto de nefrectomia radical esquerda:
* Carcinoma de células renais do tipo células claras, grau nuclear (Fuhrman/ISUP) 3.
- Tamanho da neoplasia: 10X 6,0 X 5,0 cm.
- Diferenciação sarcomatóide: ausente
- Diferenciação rabdóide presente em 5% da neoplasia.
- Necrose presente em 30% da neoplasia
- Infiltração de seio renal: presente
- Infiltração da gordura perirrenal: ausente
- Invasão vascular: não detectada
- Vasos do hilo renal: Ausência de invasão tumoral
- Ureter: Ausência de neoplasia.
- Parênquima não neoplásico: atrofia tubular focal
- Linfonodos do hilo renal: Ausência de neoplasia em dois linfonodos examinados (0/2).
- Suprarrenal esquerda: Ausência de alterações relevantes. Ausência de invasão tumoral.
- Estadiamento TNM (2010): pT3aN0.
VII. Comentários
VII.1 Estadiamento patológico (pTNM) (8a edição 2017)
Descritores do TNM (apenas se aplicável)
- m (tumores primários múltiplos)
- r (recorrência)
- y (pós-tratamento)
pT – Tumor primário
- pTX – O tumor primário não pode ser avaliado
- pT0 – Sem evidência de tumor primário
- pT1 – Tumor medindo 7 cm ou menos de diâmetro, limitado ao rim
- pT1a – Tumor medindo 4 cm ou menos de diâmetro, limitado ao rim
- pT1b – Tumor medindo mais de 4 cm, mas não mais do que 7 cm de diâmetro, limitado ao rim
- pT2 – Tumor medindo mais do que 7 cm, limitado ao rim
- pT2a – Tumor medindo mais do que 7 cm, mas menor ou igual a 10 cm de diâmetro, limitado ao rim
- pT2b – Tumor medindo mais do que 10 cm, limitado ao rim
- pT3 – Tumor se estende às veias principais ou ao tecido perinéfrico, mas não à glândula suprarrenal ipsilateral ou além da fáscia de Gerota
- pT3a – O tumor se estende macroscopicamente à veia renal ou a seus ramos segmentares, ou o tumor invade a gordura perirrenal ou do seio renal, mas não se estende além da fáscia de Gerota
- pT3b – O tumor se estende macroscopicamente à veia cava abaixo do diafragma
- pT3c – O tumor se estende macroscopicamente à veia cava acima do diafragma ou invade a parede da veia cava
- pT4 – O tumor se estende além da fáscia de Gerota (incluindo extensão contígua à glândula suprarrenal ipsilateral)
pN – Linfonodos regionais
- pNX – Linfonodos regionais não podem ser avaliados
- pN0 – Ausência de metástases em linfonodos regionais
- pN1 – Metástase(s) em linfonodos regionais
pM – Metástases a distância
- pM0 – Sem metástases a distância
- pM1 – Metástases a distância
VIII. Considerações gerais
VIII.1 Exame macroscópico
Muita atenção deve ser dada ao exame macroscópico dos espécimes renais. É importante amostrar com cuidado a extensão tumoral para a gordura perirrenal e a fáscia de Gerota, que são importantes determinantes do estadiamento. Ressaltando que o crescimento tumoral por expansão à gordura renal (crescimento exofítico), não caracteriza invasão, apenas o padrão infiltrativo, (em blocos descoesos) caracteriza infiltração da gordura perirrenal. A invasão do seio renal é um fenômeno frequente, quase a totalidade dos tumores maiores do que 7 cm tem essa característica e a invasão dessa região define um carcinoma pT3a. Tem implicação prognóstica importante, pois facilita a disseminação neoplásica, em razão da rica vascularização, e prevê o comportamento mais agressivo, maior até que o envolvimento da gordura perirrenal (Thompson et al., 2005). É fundamental a sua descrição na macroscopia, assim como sua amostragem. Outro detalhe importante é o comprometimento suprarrenal pela neoplasia. Enquanto a extensão direta caracteriza um tumor pT4, um nódulo tumoral sem continuidade com o rim é estadiado pM1.
As margens ureterais e vasculares, assim como a cápsula renal, a gordura perirrenal e a fáscia de Gerota, devem ser representadas para avaliação histológica.
Nos espécimes de nefrectomia parcial ou enucleação de tumores renais, as margens devem ser pintadas com tinta nanquim e a gordura perirrenal, que eventualmente acompanha o espécime, deve ser representada para análise histológica.
VIII.2 Classificação dos carcinomas de células renais
À última classificação dos carcinomas de células renais foi publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2014.
Apesar de o carcinoma de células claras continuar sendo o tipo mais comum, o reconhecimento dos outros tipos é importante tanto do ponto de vista prognóstico quanto de tratamento. O desenvolvimento de drogas-alvo moleculares e mais recentemente da imunonoterapia, mudou o tratamento dos carcinomas renais e, dependendo das alterações moleculares, elas serão mais ou menos eficientes. Além disto, o reconhecimento de novos tumores relacionados à sindromes hereditárias (ex. HLRCC, SDH) é de extrema importância para melhor acompanhamento do paciente e seu familiares.
A graduação histológica hoje, deve ser aplicada a apenas alguns carcinomas como carcinomas de células claras e papilares. Alguns tumores como por exemplo os carcinomas cromófobos, medulares, ductos coletores, translocações, etc., não devem ser graduados.
O padrão sarcomatoso e/ou rabdóide pode estar presente em qualquer das variantes e representa importante indicador prognóstico desfavorável. Assim, recomenda-se a representação generosa dos tumores com inclusão de áreas branco-acinzentadas do tipo “carne de peixe” para identificação dessas áreas de indiferenciação (Shuch et al., 2012).
O diferencial entre carcinoma urotelial e carcinoma de células renais ocorrerá ocasionalmente, principalmente em material de biópsia por agulha – prática cada vez mais frequente nos tumores de rim, por causa da implementação de tratamentos minimamente invasivos, e até mesmo vigilância ativa. Esse diagnóstico é importante, pois, o tratamento dos carcinomas uroteliais é bastante diferente do dos carcinomas de células renais.
A imuno-histoquímica ajuda muito no diagnóstico entre os diferentes tipos de neoplasias renais, sendo que para alguns tumores o diagnóstico imun0-histoquímico é mandatório como para o diagnóstico de carcinomas relacionados a deficiência de fumarato hifratase (FH/HLRCC), por exemplo
A Tabela 1 ilustra o perfil imuno-histoquímico que auxilia no diagnóstico diferencial entre os diversos tipos de tumores renais.
Tabela 1 Perfil imuno-histoquímico das neoplasias renais mais comuns.
Neoplasia / Anticorpo | Células claras | Papilífero | Ca (túbulo) pap de cels claras | Translocação familia MiT | Cromófobo | Oncocitoma | HLRCC | Ducto coletor | Medular | Urotelial | Angiomiolipoma epitelioide | ||
Pax 8 | pos | pos | pos | pos | pos | pos | pos | pos | pos | neg | neg | ||
CAIX | pos | neg | pos (cup shape) | pos/neg | neg | neg | neg | neg | neg | neg | neg | ||
CK7 | neg | pos | pos | neg | pos (difuso) | pos (focal) | neg | pos/neg | neg | pos/neg | neg | ||
Racemase | neg/pos | pos | neg | pos | neg/pos | neg/pos | NA | neg | neg | neg | neg | ||
CD117 | neg | neg | neg | pos/neg | pos | pos | NA | NA | neg | pos | neg | ||
TFE3 | neg | neg | neg | pos | neg | neg | neg | neg | neg | neg | neg | ||
GATA3 | neg | neg | neg | neg | neg | neg | neg | neg | neg | pos | neg | ||
INI1 | pos | pos | pos | pos | pos | pos | pos | pos | neg | pos | pos | ||
OCT4 | neg | neg | pos | neg | neg | neg | neg | neg | pos/neg | neg | neg | ||
HMB45 | neg | neg | neg | pos/neg | neg | neg | neg | neg | neg | neg | pos | ||
FH | pos | pos | pos | pos | pos | pos | neg | pos | pos | pos | pos |
Obs: Os dados da tabela refletem a maioria dos casos e portanto não podem ser considerados como definitivos uma vez que expressões aberrantes podem ocorrer em qualquer neoplasia.
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