NOVIDADES PARA O PICQ-SBP
O Programa de Incentivo ao Controle de Qualidade (PICQ) da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) está sendo reformulado com o objetivo de se tornar mais próximo à realidade dos patologistas, incluindo casos de macroscopia e congelação. Haverá maior peso para os diagnósticos dos casos e provavelmente um novo ponto de corte para a proficiência. Além disso, será dada maior ênfase aos handouts de forma a tornar o PICQ mais educativo, com informações mais completas e referências acessíveis a todos. A participação dos patologistas será incentivada no que diz respeito ao envio de casos, sobretudo pelos médicos residentes, com auxílio de um preceptor corresponsável. As mudanças deverão ocorrer nas edições de 2019 e serão melhor detalhadas aos associados da SBP no segundo semestre de 2018.
Leonardo Lordello
Médico patologista
Departamento de Comunicação da SBP – 2018/2019
Membro da Comissão do PICQ-SBP – 2018/2019
A IMPORTÂNCIA DOS TESTES DE PROFICIÊNCIA PARA A ROTINA DOS PATOLOGISTAS
A Anatomia Patológica e a Citopatologia são especialidades essencialmente interpretativas, como todos sabem, que dependem de três fatores fundamentais para que os diagnósticos sejam corretos: educação (formação e continuada), experiência e habilidade (memória fotográfica, raciocínio na correlação clinico-patológica, comunicação com os médicos assistentes e outras). Esses atributos, quando plenamente desenvolvidos e continuamente trabalhados, reduzem a possibilidade de erros de interpretação diagnóstica, mas não os eliminam. Não é preciso falar sobre a importância do papel do patologista e o impacto que um diagnóstico incorreto tem na vida de um paciente. Desta forma, os programas de controle de qualidade e de acreditação têm tido um cuidado especial com qualificação e desempenho dos patologistas em relação à acurácia diagnóstica, tendo os testes de proficiência (TP) papel crucial na avaliação deste desempenho. Embora haja controvérsias sobre a construção, elaboração e avaliação destes TP, ainda não há proposta melhor para métrica de desempenho dos patologistas, citopatologistas e citotécnicos em relação à acurácia diagnóstica. Atualmente, em todos os continentes, há vários tipos de TP, desde avaliação de lâminas físicas até imagens online, como no caso do PICQ.
O TP deve refletir a rotina de um laboratório, tanto em casos típicos e comuns quanto em casos raros. Entretanto, considerando que há um número limitado de casos em cada edição de TP, sejam quais forem estes TP, a preocupação é em prover casos que sejam desafiadores, mas que tenham relativa representação na rotina.
O tratamento que cada instituição dá aos testes de proficiência reflete no desempenho de cada patologista ao responder os mesmos. A tendência observada durante os anos de atividade do PICQ, por exemplo, denota um comportamento comum entre as instituições de deixar para responder os casos e questões na última semana, chegando a congestionar o site com acessos, por vezes, com perdas de prazos de respostas. Esse comportamento reflete diretamente no desempenho do patologista, que tem menos tempo para estudar, cumpre uma obrigação sem muita reflexão e muitas vezes está cansado demais para buscar as respostas corretas das questões. E a pior parte é que não se percebe o valor do material disponível para aprendizado, deixando de aproveitá-lo da melhor forma, bem como o empenho extraordinário das pessoas que elaboram esses testes de proficiência, seja qual for a sua origem, é completamente desvalorizado.
Há várias maneiras de se responder os TP e cada instituição pode desenvolver o seu método. Entretanto, para que o desempenho do patologista seja significativo e mais próximo à realidade, é fundamental que o TP seja inserido na rotina diária da instituição e que reflita o tempo de liberação de laudo. Uma maneira de se fazer isto é cadastrar os casos, junto com suas lâminas ou imagens, no sistema de informática do laboratório, atribuir-lhes um número operacional como outro exame qualquer e tratá-los da mesma maneira. Em caso de haver somente imagens, pode-se usar um cartão ou lâminas em branco e acessar as imagens online, porém responder o caso emitindo-se um laudo oficial e arquivando-se este para correlacionar com o desempenho individual de cada patologista que respondeu o caso. Cada caso pode ter vários registros, no sentido de evitar que haja influência de um diagnóstico individual sobre outro. Podem ser feitas reuniões de consenso e se decidir qual é o melhor diagnóstico, porém jamais deixar de registrar a opinião individual de cada membro da equipe. Em serviços com residentes, a parte teórica pode ficar para que eles elaborem apresentações que venham enriquecer a atualização científica de todos do serviço.
Em relação aos programas de acreditação, quando houver deficiência no desempenho ou um diagnóstico não corresponder à resposta correta, interpreta-se que a rotina de casos do laboratório representada por aquele diagnóstico possa estar com problemas. Por exemplo, se nas edições do TP há casos de patologia mamária e há erros relacionados ao diagnóstico dos casos, a rotina laboratorial daquele tipo de diagnóstico pode refletir o erro do TP, significando que há pacientes com diagnósticos incorretos. No Brasil, o PACQ da SBP tem como um de seu principais pilares a participação e desempenho em TP, como o PICQ (www.picq.org.br) e o Citonet (www.sbccitonet.com.br), realizado pela Sociedade Brasileira de Citopatologia.
É importante entender que os TP não são somente uma carga a mais à rotina do patologista. Se for distribuído, por exemplo, um caso por semana para cada patologista, não haverá sobrecarga, pois é necessário estudar um caso difícil da rotina antes de liberá-lo e nem sempre os casos exigem um tempo extraordinário do profissional que o avalia. Desta forma, ao final de uma edição de TP, tem-se os casos todos respondidos dentro da rotina e o desempenho individual de cada patologista é facilmente registrado, permitindo que se tome ações de treinamento, individual ou coletivo, para melhora desse desempenho. Para isso, é fundamental que haja a reunião ou avaliação das edições dos TP após o recebimento das respostas corretas pela instituição, pois pode ser dado tratamento individualizado para cada situação buscando obter um indicador de alta valia para mensuração da melhora da qualificação profissional da equipe.
O TP é uma oportunidade de atualização científica e cumpre papel importante na qualificação da equipe profissional e deve ser usado como indicador de desempenho, proporcionando ferramenta indispensável na tomada de decisão para treinamentos da equipe e avaliação técnica da instituição.
Beatriz Hornburg
Médica Patologista
CEDAP – Centro de Diagnósticos Anátomo-Patológicos, Joinville – SC
Membro da Comissão de Acreditação do PACQ-SBP
Inspetora do LAP-CAP