Quando R., um homem saudável de 38 anos, começou a notar algumas alergias por seu corpo, não suspeitou que pudessem ser indício de algum tipo de doença séria. Era 2011 e ele já tinha sido operado para a correção de uma hérnia na virilha, o que resultou em uma infecção seguida pelo aumento dos gânglios linfáticos da garganta, popularmente conhecido como íngua.
O quadro não indicava nada além de uma virose, natural após a operação e a infecção. Por conta disso, ele nem poderia suspeitar que estava a algumas semanas de ser diagnosticado com câncer. Felizmente, um dos médicos que o atendeu conhecia esses sinais comumente negligenciados e solicitou um exame comum, mas que seria de grande importância para seu diagnóstico – a biópsia.
Lutando contra a ansiedade e o medo de passar por um procedimento doloroso, R. passou pela temida biópsia e acabou descobrindo que ela não era um monstro de sete cabeças. Em um procedimento ambulatorial, o médico utilizou uma agulha para remover um pequeno fragmento dos gânglios de R., enviando essa amostra de tecido para a análise de um patologista, especialista conhecido como o “profissional do diagnóstico”.
O laudo desse médico traria a notícia que R. não queria, mas precisava ouvir. Ele tinha linfoma não-Hodgkin de células T, tipo de câncer considerado raro. Pouco conhecido por grande parte da população até então, os linfomas se manifestam nas células do sistema imunológico, atingindo os gânglios linfáticos (linfonodos) e atacando as defesas do organismo. A doença é dividida em duas categorias: Hodgkin e não-Hodgkin (tipo mais comum).
No total, o Brasil registra anualmente cerca de 2.470 novos casos delinfoma de Hodgkin e 4.154 novos casos de linfoma não-Hodgkin. A variante de R., especificamente, ainda é vista em apenas cerca de 10% de todos os casos de linfoma. Mesmo que rara, sua doença era agressiva e R. tinha pela frente uma luta dura.
Ainda assim, ele tinha como aliado seu médico patologista, que utilizaria todo o conhecimento técnico para ajudar R. e seu oncologista na escolha do melhor tipo de conduta terapêutica para o tratamento. Para tanto, o especialista teria que realizar um processo quase artesanal para analisar a biópsia de R. no microscópio, usando dados clínicos e laboratoriais, como a morfologia (tamanho e forma das células ao microscópio), testes complementares e características com valor prognóstico, fundamentais para que fosse possível entender o desenvolvimento da doença de R..
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Setembro é o mês no qual é comemorado o Dia Mundial de Conscientização sobre Linfomas (15/09). Esse texto é o primeiro de uma série especial sobre a doença, realizada pela SBP em parceria com a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (ABRALE). A história de R. é real e se repete todos os dias no Brasil. Na próxima semana você saberá mais sobre os processos realizados pelo médico patologista para chegar ao laudo que tornou possível o início da luta dele contra o câncer.