Nos textos anteriores, conhecemos a história de Pedro, um homem de 55 anos que nunca realizou qualquer tipo de exame de rotina. Ele precisou superar anos de preconceito e vergonha para, por insistência dos filhos, procurar um urologista. Em sua consulta foi constatado, graças ao exame de toque retal, a presença de um nódulo endurecido na próstata, havendo a necessidade da realização de uma biópsia para indicar a presença ou não de células tumorais. Ele passou pelo procedimento e foi informado que os fragmentos retirados passariam por diversos processos químicos para, então, serem analisados ao microscópio pelo médico patologista, o profissional do diagnóstico.
Pedro, muito ansioso, aguardava o resultado da biópsia. Graças a um amigo de seu filho, que era patologista, ele pôde tirar todas as suas dúvidas a respeito do que seria feito com as amostras retiradas de sua próstata. Ele soube um pouco mais sobre todos os processos envolvidos para o preparo da amostra, mas nunca poderia imaginar que seu laudo demandaria uma apreciação tão minuciosa e individualizada.
Longe de ser um diagnóstico automático realizado por uma máquina, ele descobriu que o médico patologista é o único especialista capaz de realizar um diagnóstico definitivo do câncer de próstata, da maioria dos outros tumores e também de doenças infecciosas e inflamatórias. Isso só seria possível após uma avaliação do material ao microscópio, onde o médico patologista compara as imagens das lâminas, indecifráveis para um leigo, com aquelas observadas e aprendidas durante seus anos de experiência.
Ele pesquisou essas imagens no Google e ficou deslumbrado com os diversos tons de rosa e violeta. Pedro não conseguia entender, mas aos poucos soube que refletiam a organização das células e que a partir das mesmas um diagnóstico importante como o seu seria obtido.
Esse trabalho intelectual e quase artesanal seria de suma importância, uma vez que todo o tratamento dependeria das informações identificadas e fornecidas pelo patologista. Ele poderia definir, por exemplo, tumores bem diferenciados e menos agressivos, aos quais é atribuído o escore 6 de Gleason ou grau 1 pelo novo sistema de graduação proposto pela Organização Mundial da Saúde e Sociedade Internacional de Patologia Urológica (WHO/ISUP). Estas lesões poderiam, em determinadas situações, inclusive ser apenas acompanhada e não imediatamente tratadas com cirurgia. Essa conduta frente alguns tumores da próstata se denomina “observação vigilante” e permite que o paciente seja observado, prorrogando ou evitando o tratamento cirúrgico ou radioterápico, que podem trazer danos ao paciente.
Pedro então percebeu que, caso fosse confirmada a presença de um tumor na biópsia, o patologista seria o responsável por listar todas as características da doença para auxiliar no entendimento de sua agressividade biológica e melhor definir seu tratamento. O laudo emitido pelo Patologista é um documento médico indispensável para o exercício da medicina, principalmente da oncologia.
Mesmo com toda essa informação, Pedro continuava aflito à espera da ligação do laboratório de patologia para retirar o seu laudo, que sairia em cerca de 48 horas.
Na semana que vem você acompanhará a entrega do laudo e saberá qual o diagnóstico de Pedro. Não perca!
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Esse texto é o terceiro de uma série especial em apoio ao Novembro Azul, uma campanha dirigida à sociedade e, especialmente, aos homens para a conscientização da prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata.
A história de Pedro é fictícia, mas acontece diariamente com incontáveis brasileiros. A Sociedade Brasileira de Patologia apóia o Novembro Azul!
Fonte: Dra. Kátia Ramos Moreira Leite – Profa. Associada do Departamento de Cirurgia, Disciplina de Urologia, Laboratório de Investigação Médica – LIM55, Faculdade de Medicina da USP, Genoa Biotecnologia.