Nos textos anteriores, conhecemos Pedro, um homem de 55 anos que, em sua primeira consulta no urologista, teve constatada a presença de um nódulo endurecido na próstata, por meio do exame de toque retal, havendo a necessidade da realização de uma biópsiapara indicar a presença ou não de câncer.
Após a realização do procedimento, os fragmentos retirados passaram por diversos processos químicos para serem preservados e preparados para a análise de um médico patologista. Leia mais sobre o trabalho deste profissional do diagnóstico: https://www.sbp.org.br/Noticias/noticiasDetalhes.aspx?idNoticia=1040
Depois de 48h, Pedro recebeu a ligação do laboratório informando que seu laudo estava disponível para a retirada. Mesmo depois de toda a pesquisa sobre câncer de próstata e dos processos envolvendo a biópsia, muito ansioso e com medo, foi acompanhado de seus filhos ao urologista para saber o resultado no mesmo dia.
Já no consultório, o urologista confirmou a suspeita após abrir o laudo e ler todas as informações contidas nele. Pedro estava com câncer. Antes mesmo de o médico ter tempo de explicar a doença, Pedro começou a fazer perguntas. Ele queria saber de tudo: se iria morrer, se precisaria retirar toda a próstata e se isso o levaria a impotência sexual.
Antes de responder todos esses questionamentos, o médico explicou que o grau de seu tumor, conhecido como grau de Gleason, era 6, o menor grau de um tumor de próstata seguindo esta escala. Usando uma nova classificação da Sociedade Internacional de Patologia Urológica, o mesmo tumor é considerado como grau 1, ou seja, o menos agressivo. Além disso, estava presente em apenas uma pequena porcentagem de 2 fragmentos dos 14 retirados. Segundo o médico, esse resultado era muito favorável, havendo a possibilidade de se aguardar para tratar em uma conduta que se chama “observação vigilante”. O urologista explicou a Pedro que o tumor com essas características tem comportamento muito indolente e que poderia não progredir, dando a oportunidade a Pedro de acompanhá-lo de perto sem a realização de um tratamento cirúrgico. Caso houvesse progressão ou alteração das características do tumor em uma nova biópsia no futuro aí um tratamento definitivo, curativo poderia ser realizado. Essa explicação deixou Pedro mais aliviado.
Depois dessa explicação Pedro ponderou com o Urologista que não gostaria de conviver com uma incerteza em relação a doença e que gostaria de fazer um tratamento curativo, definitivo. O urologista então apresentou todas as opções de tratamento que inclui ainda a radioterapia e Pedro optou pelo tratamento cirúrgico.
Quanto a preocupação em relação a impotência o urologista explicou que as possibilidades eram pequenas, principalmente sendo ele jovem, e que caso houvesse algum problema ele poderia ser contornado com medicações apropriadas.
A cirurgia foi marcada e realizada um mês depois da biópsia, tempo considerado o mais adequado. Após a retirada e análise de toda a próstata o médico patologista foi capaz de dar todas as informações adicionais necessárias para a previsão do comportamento da doença daí por diante. O patologista confirmou o baixo grau do tumor, ou seja, o mais favorável e ainda avaliou o volume do mesmo, se as margens cirúrgicas estavam livres de neoplasia e outras informações importantes para que se confirme que não há necessidade de um tratamento complementar após o procedimento, o que se denomina de terapia adjuvante.
Após a cirurgia, Pedro terá acompanhamento médico em intervalos periódicos, realizando a medição do PSA no sangue, uma enzina produzida especificamente pelas células da próstata e que é utilizada para o acompanhamento pós-cirúrgico. Este acompanhamento é fundamental para que se confirme a cura ou para que se institua algum tratamento complementar caso a doença retorne.
Em uma época onde a expectativa de vida da população está cada vez mais alta, a prevenção do câncer de próstata proporcionará aos homens uma vida mais longa, mais saudável e plena, pois mesmo sendo uma neoplasia com inúmeras formas de controle, pode limitar essas possibilidades.
_______________________________________________________________________
Esse texto é o último de uma série especial em apoio ao Novembro Azul, uma campanha dirigida à sociedade e, especialmente, aos homens para a conscientização da prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata.
A história de Pedro é fictícia, mas acontece diariamente com incontáveis brasileiros. A Sociedade Brasileira de Patologia apóia o Novembro Azul!
Fonte: Dra. Kátia Ramos Moreira Leite – Profa. Associada do Departamento de Cirurgia, Disciplina de Urologia, Laboratório de Investigação Médica – LIM55, Faculdade de Medicina da USP, Genoa Biotecnologia.